
Todo mundo promete “IA no seu dispositivo”, mas Apple Intelligence, Copilot e Gemini não são o mesmo produto pintado com nomes diferentes. Cada um nasce de um ecossistema diferente (Apple, Microsoft e Google) e tem metas diferentes: vida pessoal, produtividade de trabalho e resposta rápida a qualquer pergunta.
Traduzindo: o que o seu iPhone/Mac chama de IA hoje não é a mesma IA que o seu PC com Windows está tentando te vender, e nenhuma das duas é igual ao que o Android (e o app Google) está empurrando. Antes de você gastar em celular novo, notebook “AI PC” ou mudar de assistente, vale entender quem faz o quê.
Abaixo, vamos explicar: o que cada serviço é, onde roda de fato, o que ele faz bem, quais dados ele olha e pra quem ele faz sentido.
O que cada um é
Apple Intelligence é o pacote de recursos de IA integrado ao iPhone, iPad e Mac recentes. A ideia da Apple é rodar o máximo possível direto no aparelho (texto sugerido, resposta inteligente, edição de imagem, resumo de notificações, limpeza de objetos na foto) e só mandar partes mais pesadas para servidores da Apple quando realmente precisa, preservando privacidade. A empresa vende isso como “IA pessoal, com contexto da sua vida”, e não como um chatbot genérico.
Copilot é o assistente da Microsoft conectado ao Windows, ao Office e agora aos chamados “Copilot+ PCs”. Ele escreve e reescreve e‑mail, gera apresentações, resume reunião do Teams, ajuda a procurar qualquer coisa que já passou na sua tela e ainda responde perguntas gerais. Nos PCs mais novos com NPU dedicada (um chip interno só pra IA), parte dessas funções roda localmente, sem depender 100% da nuvem.
Gemini é a família de modelos de IA do Google. Ele substitui gradualmente o Assistente em celulares Android recentes, aparece como app próprio no Android e também conversa com seus serviços Google (Gmail, Drive, YouTube, Maps). A proposta do Gemini é ser o seu “assistente geral de pergunta e resposta”, puxando contexto direto da sua conta Google e devolvendo já mastigado.
Resumo rápido: Apple Intelligence quer ser seu assistente pessoal dentro dos apps do ecossistema Apple. Copilot quer ser seu estagiário de escritório dentro do Windows/Office. Gemini quer ser sua busca inteligente em qualquer lugar onde você já usa Google.
Onde cada um roda hoje
Aqui é onde muita gente erra: nem tudo está liberado pra todo mundo.
Apple Intelligence roda só em hardware novo da Apple. A Apple informa que os recursos exigem iPhones com chip recente de linha Pro (classe A17 Pro pra cima) e Macs/iPads com chip Apple Silicon moderno (família M1 ou posterior). Em vários casos, o recurso chega primeiro em inglês dos EUA e depois em outros idiomas, suporte completo em português brasileiro ainda é (a confirmar). Ou seja: não adianta ter iPhone antigo achando que vai ganhar a versão completa.
Copilot está no Windows 11, nos apps Microsoft 365 (Outlook, Word, PowerPoint, Teams) e no navegador Edge. Mas existe uma diferença grande entre “Copilot comum” e o novo pacote dos Copilot+ PCs. Nos Copilot+ PCs, notebooks e desktops com NPU dedicada de alto desempenho, o Windows ativa recursos exclusivos, tipo busca contextual do que você já fez na máquina, legendas/traduções em tempo real e assistências de edição de imagem direto no hardware. Já existe notebook sendo vendido com essa bandeira “Copilot+ PC”, e essa é a linha que a Microsoft está apostando como o “PC de IA”.
Gemini já está em celulares Android atuais via app próprio do Google e começa a substituir o Assistente em voz e em texto. Ele também está entrando nos produtos Google que você já usa: você pode pedir “resumir esse e‑mail”, “ver minha passagem” ou “explica esse PDF” porque o Gemini enxerga seu Gmail, Drive e Docs. Além disso, o Google está levando o Gemini pra casa conectada (alto‑falantes, telas inteligentes, Google Home) o plano declarado do Google é aposentar o Assistente clássico e colocar Gemini em tudo.
Tradução prática: Apple limita por hardware recente e idioma; Microsoft limita alguns extras a PCs com NPU dedicada; Google joga o Gemini em todo lugar que já existe conta Google.
O que cada um faz melhor
Apple Intelligence é forte em contexto pessoal. O sistema lê suas próprias notificações, calendários, e‑mails e fotos para resumir sua vida e sugerir respostas, mas sem “subir sua vida inteira pra nuvem” sempre que você pede ajuda a Apple insiste na ideia de rodar tarefas direto no dispositivo e usar servidores próprios como extensão privada só quando precisa de modelos maiores. É muito orientado a vida pessoal: limpar um objeto de uma foto, reescrever uma mensagem num tom mais educado, gerar um rascunho de e‑mail, priorizar notificações importantes.
Copilot brilha em produtividade de trabalho. Ele pega reunião do Teams, ata em ponto de ação, gera ata e manda follow‑up; ajuda a escrever apresentação no PowerPoint; rascunha e‑mails no Outlook; responde “onde está aquele PDF que eu abri ontem com os números de orçamento?” e aponta o arquivo. Nos Copilot+ PCs, ele consegue fazer análise local do que já aconteceu na sua tela e usar isso pra te ajudar depois é literalmente um colega que não esquece.
Gemini é muito bom em pergunta aberta e vida digital amarrada. Você pode tratar ele quase como “busca turbo”: “quando é meu voo?”, “resume esse documento”, “me mostra as anotações daquela reunião no Drive”, “o que significa isso no meu exame?”, “onde eu salvei aquela planilha?”. Ele cruza as informações dos seus serviços Google e responde em linguagem natural, inclusive em português em boa parte dos casos mais comuns.
Resumindo: Apple Intelligence é assistência pessoal privada, Copilot é braço direito de escritório, Gemini é busca contextual para tudo que você tem no Google.
Privacidade e dados
Esse é o ponto mais sensível e onde as empresas batem mais forte no marketing.
A Apple vende privacidade como diferencial. A mensagem oficial é: o Apple Intelligence roda o máximo possível no próprio aparelho e, quando precisa mandar algo pros servidores da Apple, isso vai para uma infraestrutura controlada pela própria Apple, com isolamento e auditoria. A ideia é que o sistema entenda o seu contexto (mensagens, agenda, fotos) sem “vazar sua vida” pra um provedor externo.
A Microsoft aposta em eficiência de trabalho, e isso significa acesso aos seus dados de trabalho. O Copilot consegue ler reunião, e‑mail, documentos internos e histórico de tela (nos PCs compatíveis) pra responder rápido. Isso é ouro pra produtividade, mas também significa que o seu ambiente corporativo precisa ter governança: conta Microsoft, políticas de acesso e limites bem definidos. Em empresas, TI vai querer auditar o que o Copilot pode ou não ver.
O Google parte de outra lógica: o Gemini funciona porque entende tudo que você já guarda no Gmail, no Drive, no YouTube, no Maps, nos seus Docs. É conveniência máxima (“me lembra do endereço do Airbnb que eu reservei”), mas também implica confiar ainda mais sua vida digital ao Google. O próprio Google já admite que o Gemini está assumindo o lugar do Assistente tradicional no Android, nos dispositivos de casa inteligente e até no carro, ou seja, esse nível de acesso só tende a aumentar.
Resumo: Apple vende “privacidade primeiro”, Microsoft vende “produtividade primeiro”, Google vende “contexto total primeiro”.
Qual faz mais sentido pra você
Vamos ser diretos.
Se você vive no ecossistema Apple, já tem um iPhone/Mac recente e quer uma IA que entenda sua vida pessoal (fotos, mensagens, compromissos) e que rode muita coisa direto no aparelho, o Apple Intelligence é o caminho natural. Só atenção: ele depende de hardware novo e muitos recursos chegam primeiro em inglês. Português completo ainda é (a confirmar).
Se você trabalha em Windows, usa Outlook, Teams, PowerPoint, Word e vive em reunião, o Copilot é o que traz ganho imediato. Principalmente se você estiver em um Copilot+ PC com NPU dedicada, que habilita recurso local de resumo de tela, tradução em tempo real e busca do que você já viu no computador, isso é fluxo de trabalho.
Se sua vida está no Google, Gmail, Docs, Drive, YouTube, Agenda, Maps, e você quer um assistente que responda perguntas, ache informações suas e já gere texto/explicação em português sem depender de instalar um PC novo ou comprar iPhone Pro, o Gemini resolve hoje. É literalmente perguntar “quando é meu voo?” e receber a resposta porque ele leu seu e‑mail de confirmação.
Mini‑FAQ
Preciso de hardware novo pra usar?
Depende. Os recursos do Apple Intelligence exigem iPhone/Mac recente. Os extras mais avançados do Copilot pedem um PC da linha Copilot+ (com NPU dedicada). O Gemini já roda em muito Android atual e também via app do Google, inclusive em português em várias funções.
Eles guardam o que eu peço?
Cada empresa tem sua política. A Apple insiste que processa o máximo local, e quando envia pra nuvem envia para infraestrutura própria. A Microsoft registra e cruza dados de produtividade (e‑mail, reunião, arquivos) pra gerar contexto, isso é parte da proposta. O Google usa o contexto da sua conta Gmail/Drive/YouTube/Maps pra responder e aprende com esse histórico. Se privacidade máxima é prioridade, Apple sai na frente. Se produtividade de equipe é prioridade, Microsoft ganha. Se conveniência de busca unificada é prioridade, Google ganha.
Veredito / expectativa
O consumidor vai ter que escolher ecossistema de IA do mesmo jeito que já escolhe sistema operacional. A disputa não é só “qual celular é mais rápido” ou “qual notebook tem mais RAM”. Agora é: quem vai ser seu copiloto pessoal/trabalho/vida digital nos próximos anos.
O cenário de 2025 aponta três blocos claros:
- A Apple empurra o discurso de IA pessoal com privacidade e execução no próprio aparelho.
- A Microsoft transforma o PC em ferramenta de trabalho com memória, resumo de reunião e geração de documento instantânea.
- O Google tenta virar a sua busca inteligente sempre disponível, em qualquer tela onde você já está logado.
Para quem está escolhendo hardware novo agora (celular premium, notebook de trabalho, tablet), esse passa a ser um critério real de compra no Brasil: não é só câmera e bateria, é qual assistente você quer morando com você daqui pra frente.




